28.11.10

no meio das estrelas,
de onde posso enxergar
todo o intenso fluxo
de corpos celestes
tão perdidos
quanto eu,
a solidão é
de tal forma
ubíqua
que até me esqueço
dela, só flutuo
lentamente
dentro de sua matéria
negra (e, se penso
bem, nem posso
dizer de velocidade quando
a vastidão é eterna).
não poderia explicar
porque sobrevivi
à explosão de nossa
nave espacial.
sei
que estou vivo
e tenho um corpo
que é como
um meteorito, esperando
pacientemente
a hora de se chocar contra
uma superfície
(qualquer uma)
até lá eu
não toco mais em
nada
que não seja vácuo,
que, de toda forma,
não é algo a ser
tocado.
penso, penso, penso,
infinitamente
e quase posso sentir
tudo se esgarçando
à minha volta.
nada pode ser tão real
quanto isso:
estar só,
      estar vivo,
           estar exatamente aqui onde estou,
sustentado
unicamente
pelos meus pensamentos
um minuto ou
um milênio
antes de enlouquecer

(inspirado por uma obra da
Laurie Anderson e, portanto,
pelo Anderson)
 

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