2.7.09

A programação das tardes da tevê brasileira é mesmo uma coisa impressionante. Muitas vezes eu sou capaz de ficar horas e horas trocando compulsivamente de canal, ouvindo as últimas fofocas das últimas celebridades, as discussões acaloradas entre mães que gostam de sair com as filhas e filhas que não gostam que suas mães achem que são mais jovens do que são, os testes de verdade com polígrafos que dirão se o marido traiu sua esposa com um homem, com uma mulher, ou se tudo não passou de uma suspeita infundada que é carregada sem nenhum tato pela apresentadora através de todos os blocos, para que só descubramos o resultado nos últimos segundos do programa, naquele momento exato em que descobrimos que não nos importamos. De fato, é uma espécie de hipnose letárgica, um tanto diferente daquela produzida pelo mar, em que não há lembranças nem mistérios nem perguntas, só uma frase inútil após a outra, todas ouvidas com uma atenção descompromissada que ainda assim nos prende no sofá, e de repente são seis da tarde, diz o apresentador ao se despedir.

******

Esse é um pedaço de algo que eu (não) estou escrevendo já há muito tempo.
Nada pronto, claro. Um dia, quem sabe, saia. Não por enquanto.
Mas, vai lá. Tá aí.

29.5.09

extras vi

por detrás das vidraças –
de baixo, de cima –
contempla os arranha-céus
que não se movem mas
se enchem de cores
conforme anoitece
estou empacada. vai
ficar mais fácil?
se pelo menos
conseguisse dormir
quem sabe
talvez descobrisse afinal
o que fazer
pararia de fumar e
gostaria mais das
pessoas conseguiria
um papel digno num
filme decente
descobriria sua
vocação. do alto ou
de baixo, no meio
dessa constelação
multicolorida talvez
fosse feliz, ou
fugisse
pararia de escrever e só
tiraria fotos dos
próprios pés.
_________________________

tá, eu sei que esse negócio de poema já tá chato e tals.
mas é o que tá tendo.

10.5.09

extras v

o trem atravessa a
Europa o táxi
atravessa Paris
atrás de um remédio
os encontros
pelo caminho as frases
que dizemos e esvaziam
a paisagem:
chegar e
abrir as janelas
deixar se envolver
pelo cheiro de guardado
tirar o sapato e
estranhar
a casa ouvir vozes
guardadas na memória
a te lembrar o que
é estar de volta e
o que ainda está
no meio
do traslado

19.4.09

extras IV

nenhum traço
se completa no
movimento
incessante
dos homens
que freqüentam o
café as folhas
do caderno voam
ao vento
e animam a
procura que nunca
nunca
acaba tem
nome certo
mas se perde
nos becos vielas
nas praças no
le aviatour
ao som de
blondie

1.4.09

extras III

a marteladas a
cidade desmorona
à nossa volta
procuramos os
lugares que conhecemos
as memórias do que
fomos
estão alagadas
submersas

a cidade desaparece
e tentamos aprender a
desaparecer junto
nosso amor
um edifício que
implode ao contrário e vai
para o céu,
de repente transformado
numa nave espacial

não saímos ilesos
mas vivos
ao som do concreto
explodindo no
encontro com o
metal
a cidade morre e
nós assistimos do
buraco na parede
do maior prédio que
achamos,
de mãos dadas,
enquanto o chão
começa a ruir.
 

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