17.8.10

faces da morte

uma das coisas que
ainda me surpreende
é que consigamos
reconhecer as pessoas
de nossa infância
tantos anos depois
mesmo que suas feições tenham
se diluído ou
se concentrado
mesmo que seus rostos
tenham se alongado ou
que seus tecidos tenham
Inchado de forma
considerável
que sejam iguais –
o mesmo rosto de criança –
ou tenham mudado
completamente –
doença, sofrimentos,
cirurgia plástica.

aposto que se existisse céu ou
inferno,
neles também nos
reconheceríamos
não pela alma nem
nada
e sim pelo particular modo
de andar entre as nuvens
ou pelo mapa da
constelação
formada pelos nossos
narizes bocas orelhas olhos

mas
tais lugares não existem
e daqui a um tempo
ninguém nos reconhecerá
mais
nossa constelação será feita
de ossos escondidos
em gavetas e poeira
aspergida
pelo mundo

20.07.2010
CTAv

***
O meu modo próprio de me inspirar a escrever poemas pode ser muito bem identificado como pura e simples cópia.
Ler outros autores me inspira: seus universos e ritmos particulares. É sempre um mergulho neles que me leva adiante com a poesia e a literatura em geral. Mas aí a literatura é subproduto, eu sei: são maus poemas, maus contos.
Isso pra dizer que esse poema é inspirado (chupado, copiado, etc.) da Adília Lopes.

***
Nota adicionada um tempo depois (16.08.10):

Você lê um poema demais – um poema que seja seu pelo menos – e de repente nada nele tem nenhum significado. Nada nele é verdade, tudo é idiota. Nem o filete de sangue resta pra nos lembrar o porquê de escrevê-lo.

Um comentário:

Tats disse...

é inspirado e é tão legal!
:)

 

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