19.6.08

"O problema de escrever: o escritor, como diz Proust, inventa na língua uma nova língua, uma língua de algum modo estrangeira. Ele traz à luz novas potências gramaticais ou sintáticas. Arrasta a língua para fora de seus sulcos costumeiros, leva-a a delirar. Mas o problema de escrever é também inseparável de um problema de ver e de ouvir: com efeito, quando se cria uma outra língua no interior da língua, a linguagem inteira tende para um limite 'assintático', 'agramatical', ou que se comunica com seu próprio fora.
O limite não se está fora da linguagem, ele é o seu fora: é feito de visões e audições não-linguageiras, mas que só a linguagem torna possíveis. Por isso há uma pintura e uma música próprias da escrita, como efeitos de cores e de sonoridades que se elevam em cima das palavras. É através das palavras, que se vê e ouve. Beckett falava em 'perfurar buracos' na linguagem para ver ou ouvir 'o que está escondido atrás'. De cada escritor é preciso dizer: é um vidente, um ouvidor, 'mal visto mal dito', é um colorista, um músico".

Deleuze,
Crítica e Clínica.

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